Apreensões milionárias de ouro no Brasil: casos recentes chamam atenção pela quantidade e pela forma de transporte
10/08/2025
(Foto: Reprodução) Polícia tenta descobrir origem de 143 kg de ouro apreendidos no norte do país
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu cerca de R$ 80 milhões em barras de ouro nesta semana. Uma delas, a maior da história da corporação: 103 quilos em Boa Vista. A operação na região norte do país ainda realiza testes para descobrir a origem dos metais.
Na capital de Roraima, a fiscalização desconfiou do comportamento de um casal durante uma abordagem. Quando pararam, policiais notaram que o veículo, apesar de novo, “estava com suas partes internas, como os painéis e portas, com sinais de terem sido mexidos”, segundo narraram agentes.
Recorde em apreensão de ouro no Brasil
Reprodução Fantástico
Para além, o comportamento dos tripulantes da caminhonete também chamou atenção. “Foram notadas respostas incoerentes e contraditórias”, contou o policial rodoviário, Isaías Magalhães. “Estavam visivelmente preocupados e nervosos”.
Boa parte dos metais estava em compartimentos falsos. Na soma, eram cerca de R$ 63 milhões.
A PRF trabalha com a hipótese que o motorista da caminhonete, Bruno Mendes de Jesus, de 30 anos, teria partido de Manaus (AM). Ele, que tem residência em Porto Velho (RO), foi preso no momento da abordagem.
Em nota, advogados de Bruno afirmaram confiar que os fatos serão “devidamente esclarecidos". Disse ainda, que Bruno “se colocou à disposição da Justiça” e vai enfrentar as acusações com “serenidade”.
Caminhonete pertencia a transportadora
O Fantástico foi até o endereço registrado no veículo: na zona leste de Manaus. O veículo é registrado em nome da Transportadora AJL., de Marcos Roberto Souza da Silva. A reportagem não encontrou ninguém.
Funcionários que trabalham por perto contaram que a transportadora é recém-chegada, montou o escritório há menos de um ano e os responsáveis aparecem raramente. "Não tem nada. Nunca vi um caminhão”, afirmou uma das pessoas ouvidas.
A equipe do semanal não encontrou nenhum representante da empresa. O único número de telefone a atender negou ter qualquer conhecimento sobre a AJL.
Em Altamira (PA): 40 quilos
Já no Pará, a quase 1 mil quilômetros da capital Belém, na BR-230 (Transamazônica), foram apreendidos cerca de 40 quilos de ouro maciço, transportados no painel de luxo de um carro.
Apreensões de ouro no Norte do país
Reprodução Fantástico
Quem dirigia o carro era Laércio Francisco Pedroni que viajava com a esposa e os filhos. Ele e a mulher foram presos. Ela já está em liberdade. A defesa de Laércio afirmou que o cliente recebeu “R$ 1.200 por dia de trabalho”. Que o homem “não tinha conhecimento da potencial ilicitude do fato”.
“Não era área legalizada, mas também não era área indígena”, afirmou Arnaldo Ramos, advogado de Laércio.
A Polícia Rodoviária Federal investiga se há ligação entre os dois casos. Mas alerta sobre custos maiores que a própria conversão: "Não é só a usurpação da riqueza do país por criminosos. Há um comprometimento real de vidas. Há mortes de indígenas, mortes de ribeirinhos, que são impactados por essa contaminação nos rios, essa contaminação que o garimpo ilegal faz”, afirma Humberto Freire, diretor da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal.
Ouro segue para Brasília
O carregamento apreendido foi levado até um laboratório em Brasília, capital. Onde terão suas características comparadas para se atestar a origem do ouro. “A gente tem uma “ouroteca”, que é como se fosse uma biblioteca, mas não é de livros, é uma biblioteca de ouro”, explica Carlos Eduardo Palhares Machado, perito criminal federal e diretor do Instituto Nacional de Criminalística (INC).
A análise do ouro suspeito pode levar de dois a quatro meses. Mas especialistas afirmam: já demorou mais. "Muitas vezes a gente demorava mais de um ano para receber um resultado, para ter um laudo pericial", explica o chefe do Serviço de Perícias em Geologia Forense do INC, Erich Adam Moreira Lima.
Entretanto, o tempo foi encurtado devido a chegada de tecnologia mais avançada. Maquinários vindos do Japão e dos Estados Unidos reduziram essa espera em mais de seis meses. Com eles, é possível analisar outros componentes e partículas presentes nessas barras, fundamental para acelerar a descoberta da origem.
Veja o processo de perícia:
A primeira etapa acontece com equipamentos de fluorescência de raio-x. Nessa fase, é possível descobrir se o material de fato é ouro e quais são as maiores partículas que estão associadas;
A segunda etapa acontece em um sistema de laser que atinge a amostra e provoca um vapor com partículas ainda menores;
Com essas menores, é feita uma análise química que identifica componentes ainda menores.
Esse processo denuncia uma espécie de “DNA” do metal, a assinatura de origem, onde foi extraído. “Hoje, a Polícia Federal, a ciência, consegue ler a marca que a natureza faz quando forma o ouro”, diz Humberto Freire.
Compra do metal exige nota fiscal
Há dois anos é obrigatória a emissão de nota fiscal eletrônica para o comércio de ouro no país. A ação dificultou a atuação de criminosos e, desde então, agentes da segurança percebem a mudança no padrão de contrabandos. “Começamos a perceber uma mudança por saída via terrestre, sobretudo em fronteiras como a Venezuela, Guiana...”, afirma Erich Adam Moreira Lima.
Criminosos também embarcam em veículos familiares, muitas vezes com crianças “para poder fazer esse transporte acima de qualquer suspeita”, contou Marcus Vinicius Silva de Almeida, diretor de operações da PRF ao Fantástico. “Tentaram ludibriar a segurança pública, a fiscalização, com um veículo trafegando com uma família, com uma criança”.
Tanto no caso de Roraima como no do Para, as barras foram encontradas em carros de luxo em situações parecidas e a polícia já identificou a participação do crime organizado no contrabando de ouro no Brasil.
Para investigadores há “uma migração da criminalidade organizada, daquele tipo de criminalidade típico de narcotráfico, para crimes ambientais de madeira e de ouro”, como conta Carlos Eduardo Palhares Machado.
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