Caiu no Enem 2025: questões citam Paolla Oliveira e padrões de beleza, Paulinho da Viola e carros elétricos
09/11/2025
(Foto: Reprodução) O que caiu no Enem 2025?
O 1º dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 teve nível de dificuldade considerado fácil por professores e concentrou questões que traziam, como pano de fundo, discussões sobre desigualdade, gênero, meio ambiente e religião.
Entre as questões, apareceram Paolla Oliveira e Margot Robbie, citadas em um texto sobre padrões de beleza impostos às mulheres, além de temas sobre raça, envelhecimento da população e transição energética.
De acordo com docentes ouvidos pelo g1, a prova foi equilibrada e com textos mais curtos que nos anos anteriores, mantendo a proposta interdisciplinar do exame.
A redação abordou o tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” – e um dos textos de apoio citava uma reportagem publicada pelo g1 sobre os desafios enfrentados por idosos com baixa renda.
Nesta reportagem, confira os seguintes pontos:
Sete temas de destaque no Enem
Paolla Oliveira e o debate sobre o padrão de beleza imposto às mulheres
Qual foi o nível de dificuldade geral da prova
O que caiu em linguagens?
O que caiu em geografia?
O que caiu em história?
O que caiu em filosofia e sociologia?
Redação do Enem 2025
Sete temas de destaque no Enem
Os candidatos só podem sair com o caderno de prova em mãos após as 18h30. Até lá, veja um resumo do que se sabe até aqui sobre os temas que caíram no Enem 2025, segundo o relato de professores e alunos:
Padrão de beleza imposto às mulheres, com exemplos de Paolla Oliveira e Margot Robbie;
Envelhecimento da população brasileira e combate a estereótipos sobre a velhice;
Discussão sobre inclusão e saúde mental no esporte, com referência à skatista Rayssa Leal;
Questão com textos da Bíblia e do Alcorão, comparando visões sobre trabalho e ciência;
Temas ambientais e energéticos em Geografia, como CO₂, desmatamento e carros elétricos;
Questões sobre desigualdade racial e valorização da cultura afro-brasileira;
Crônica extensa como texto base para cinco questões.
Padrão de beleza imposto às mulheres e outras discussões
Questão sobre Paolla Oliveira no Enem 2025.
Reprodução/X @vahzit
Exercícios que abordam discussões da atualidade são uma tendência do exame. Neste ano, o Enem pautou os padrões de beleza impostos às mulheres, especialmente personalidades famosas.
Foram citados os casos das atrizes Paolla Oliveira, que já foi criticada por estar “acima do peso”, e Margot Robbie, questionada por não ser “bonita o suficiente” para interpretar a Barbie. Ambas foram lembradas como exemplos de como o padrão estético ainda impacta a imagem pública das mulheres.
Segundo Raul Celestino de Toledo, coordenador pedagógico do Poliedro Curso, a figura feminina foi recorrente em diferentes contextos, inclusive em temas ligados à cultura e à sociedade, o que dialoga com a proposta da redação sobre os desafios do envelhecimento na sociedade brasileira.
"Chamou atenção o destaque dado às questões relacionadas à mulher, que apareceram tanto em Ciências Humanas quanto em Linguagens”, avalia.
Outro texto de apoio fazia referência a uma campanha do Senado sobre mudança de comportamento em relação à velhice, ilustrada pelas novas placas de banheiro que deixaram de usar a imagem do idoso com bengala, numa tentativa de combater estereótipos.
Houve ainda discussões sobre a inclusão no esporte, com foco na importância do acesso para pessoas com deficiência e na valorização da diversidade. Outro ponto foi a saúde mental no esporte, com destaque para trechos de uma entrevista da skatista Rayssa Leal, usada como exemplo de conscientização sobre o tema.
“Foi marcante a presença de várias questões, pelo menos umas cinco, sobre temas étnico-raciais e desigualdades, valorizando especialmente a cultura afro-brasileira”, destaca Toledo. O orientador pedagógico Raphael Kapa, do Colégio Andrews, concorda:
“Se, por um lado o tema da redação foi o envelhecimento, a temática central da prova objetiva foi a questão racial, que apareceu em bastante volume, com perguntas sobre cultura, religiosidade, patrimônio e mais”, destaca.
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Tranquila e fácil ou técnica e difícil?
De acordo com Raul Celestino de Toledo, do Poliedro, a prova deste domingo foi tranquila e relativamente fácil, sem questões de alta complexidade.
Ele destaca ainda que a carga de leitura foi menor neste ano, com textos mais curtos e perguntas mais objetivas — sem fugir do estilo tradicional do Enem.
“Curiosamente, saiu o Caetano Veloso e entrou o Paulinho da Viola em uma das questões", lembrou: um dos textos trazia um trecho de “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola, usado como reflexão sobre encontros, desencontros e temas sociais.
"No fim das contas, foi uma prova equilibrada, com bom ritmo e dentro do esperado”, completou Toleto.
Giba Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, analisa que a prova de Ciências Humanas exigiu dos participantes "não o acúmulo prévio de conteúdos, mas a capacidade de mobilizá-los para interpretar situações-problema em diálogo com o mundo atual", como já é esperado do Enem: um exame "interpretativo, conectado à realidade e formativo em seu propósito".
Para Vinicius Beltrão, gerente de ensino e inovações educacionais do SAS Educação, o Enem 2025 apresentou uma prova mais técnica e difícil que a do ano passado, tanto em Linguagens quanto em Ciências Humanas.
“Entendi a prova de Ciências Humanas como mais técnica, portanto mais difícil no nível interpretativo”, avaliou.
Temas de linguagens e códigos
Segundo Vinicius Beltrão, do SAS Educação, as questões de Linguagens exigiam interpretação em camadas. “A prova estava bastante interpretativa, mas de uma forma mais profunda — o estudante precisava cavar alguns níveis para chegar no que a questão solicitava. Não eram perguntas tão óbvias como víamos antes”, explicou.
Além das funções de linguagem, o exame cobrou temas ligados ao papel do autor e ao impacto social da comunicação. “Tinha muito sobre o que o autor quis dizer, qual é o fato que foi colocado e o impacto que ele tem na nossa sociedade”, destacou Beltrão.
Também chamou atenção para questões interdisciplinares com textos religiosos, algo inédito no exame, na visão dele.
“Havia uma questão que falava sobre o trabalho digno, com dois trechos da Bíblia e um do Alcorão. Nunca tinha aparecido antes esse tipo de excerto religioso”, disse.
Outro ponto recorrente foi a variação linguística e a diversidade cultural, com menções a línguas indígenas, termos da cultura africana e até uma palavra em árabe — o que o professor considerou uma novidade.
“Vimos muitas questões sobre transformação digital e comunicação contemporânea, tanto em língua portuguesa quanto nas provas de inglês e espanhol”, completou.
Uma surpresa na prova de linguagens foi uma crônica inteira como texto base para 5 questões – o que não é característica da prova. "Tive uma surpresa. Nem consigo te dizer quando o Enem fez isso, é a primeira vez que eu vejo o exame cobrando um texto para diversas questões", comenta Larissa Maciel, autora de Língua Portuguesa do Sistema pH.
Trata-se de uma crônica de 45 linhas publicada na Revista Rascunho, sobre tecnologia e a perda do hábito de escrever à mão. As questões exploravam as características do gênero.
Raphael Kapa, do Colégio Andrews, destacou um maior equilíbrio nos textos da prova de Linguagens. O grande volume de leitura costuma ser um desafio para muitos alunos. Além da crônica, que era extensa, ele percebeu textos mais curtos em relação a anos anteriores.
O professor Arturo Chiong, de Língua Portuguesa do Curso Anglo, avaliou que a prova de Linguagens manteve nível médio de dificuldade e seguiu o padrão dos últimos anos, com textos mais curtos e questões objetivas.
“Na prova de português, 11 questões tinham imagens. Não foi uma prova cansativa”, observou.
Segundo ele, o exame trouxe forte presença de temas sociais, com destaque para saúde emocional e mental, variação linguística e representatividade.
“Havia uma questão com a fala de atletas negras brasileiras sobre o cuidado com a mente, e outra sobre as diferentes formas da palavra canjica no Brasil”, explicou Chiong.
Uma questão também destacou um quadro de Dalton Paula exposto no Masp, que retrata pessoas negras identificadas por nome — conferindo visibilidade e identidade a essas figuras históricas. Outra comparava os 12 trabalhos de Hércules com a rotina de um trabalhador brasileiro, relacionando mitologia e cotidiano.
🗣️ LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Quem optou pelo inglês como língua estrangeira se deparou com textos sobre Angela Davis e a questão indígena, incluindo um poema e uma análise da apropriação cultural em fantasias de Halloween, detalha Isabela Abreu, editora de linguagens no SAS Educação.
Na prova de espanhol, Chiong destaca que o exame seguiu o padrão esperado de dificuldade. “Apareceu uma música com temática sobre a exploração dos trabalhadores, uma questão que explorava o vocabulário na Espanha e na América Latina, e outra voltada aos recursos gramaticais da língua”, resumiu.
A única charge de toda a prova de Linguagens apareceu em espanhol, aponta Isabela.
Temas de geografia
Segundo Rodrigo Magalhães, professor de Geografia da Plataforma AZ, a prova teve nível de dificuldade relativamente fácil e foi fortemente marcada por temas ambientais.
“A dinâmica ambiental dominou mais da metade da prova”, afirmou o docente. Entre os tópicos, o professor destaca: concentração de CO₂ na atmosfera em escala global; diminuição das chuvas no Brasil associada ao desmatamento na Amazônia; uso de tecnologias de sensoriamento remoto para rastrear focos de incêndio no Cerrado; diminuição do nível da água no Rio Reno, na Europa, e os impactos na navegação fluvial; e questões sobre carros elétricos e transição energética.
Juliana Przybysz, professora de Geografia do Elite Rede de Ensino, analisa que o forte enfoque em temas ambientais compensou a baixa presença de atualidades e geopolítica, frequente na prova da disciplina.
Também apareceram temas clássicos como geografia urbana e rural, transporte, geologia e função social da terra, "com uma questão considerada polêmica sobre a desapropriação de uma fazenda no Pará por trabalho análogo à escravidão e crimes ambientais, trazendo um debate jurídico e social", diz.
Temas de história
Raphael Kapa observa que a prova de história foi menos interpretativa do que em anos anteriores, exigindo maior domínio de conteúdo.
“Foi necessário, inclusive, saber contexto histórico para responder uma questão interdisciplinar sobre a obra artística de Adriana Varejão, que apareceu no caderno de linguagens”, aponta.
Para Pedro Zonta, professor de História da Escola SEB Lafaiete, o Enem 2025 trouxe uma presença maior da disciplina em relação ao ano passado – “um pouquinho mais conteudista”, mas ainda com forte caráter interpretativo e interdisciplinar.
“Foi uma prova com muitas conexões entre História, Sociologia e Filosofia, além de questões que misturavam espaço geográfico e temática histórica”, avaliou.
Segundo ele, o exame apresentou diversas perguntas sobre questões raciais, culturais e de patrimônio, temas tradicionais do Enem, mas também abordou a religião de forma mais ampla que o habitual.
“Tivemos três questões que mencionavam religião: uma comparando o cristianismo, o judaísmo e o islã a partir da visão de trabalho; outra sobre como proibições e aceitação mudam nas tradições religiosas; e uma terceira que tratava das religiões de matriz africana em diálogo com o debate sobre racismo no Brasil”, explicou.
Zonta destacou ainda que a prova não trouxe questões sobre ditadura militar e teve pouca presença de História do Brasil, com menções pontuais à passagem da monarquia para a república, à era Vargas e ao período colonial.
Temas de filosofia e sociologia
De acordo com Larissa Vitória, professora de Filosofia e Sociologia do Elite Rede de Ensino, o Enem 2025 manteve o perfil interdisciplinar e trouxe questões clássicas da filosofia política e moral, além de temas ligados ao comportamento humano e à sociedade contemporânea.
“Em Filosofia, tivemos Heráclito e sua perspectiva de cosmos; Platão, com o conceito de cidade ideal; e Aristóteles, ao discutir as formas de governo”, explicou a docente.
Ela destacou ainda a presença de autores modernos e contemporâneos. “A prova trouxe Paul Collier citando Adam Smith para discutir a motivação das condutas no capitalismo; David Hume sobre eloquência e racionalidade; Foucault na temática da disciplina e capilaridade do poder; Bentham relacionando punição e felicidade; e Derrida ao diferenciar direito e justiça”, listou.
Para Carlos Henrique, autor de Filosofia e Sociologia do Colégio e Sistema pH, o exame manteve o nível de dificuldade, com uma prova “possível para os alunos que se prepararam ao longo do ano”.
“Em Filosofia, houve um ponto muito relacional – uma questão ligando ética a um texto de Clarice Lispector sobre sua infância – além de perguntas sobre política”, afirma.
Na parte de Sociologia, o professor destacou que o foco esteve voltado para direitos, cultura e religião, mantendo a abordagem social e interpretativa que costuma marcar a prova.
Redação do Enem
O tema da redação do Enem 2025 foi "Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira". Justamente neste ano, o exame registrou um aumento significativo no número de idosos inscritos na prova:
17.192 participantes,
191% a mais do que em 2022.
Os estados com mais representantes da terceira idade são Rio de Janeiro (3.087), São Paulo (2.367) e Minas Gerais (1.997).
Thiago Braga, autor e professor de Língua Portugues, comenta redação do Enem
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