Torres com câmeras se espalham por cidades, monitoram pessoas sem regras claras e preocupam especialistas

  • 11/10/2025
(Foto: Reprodução)
Torres com câmeras se espalham e levantam alerta sobre privacidade Torres de vigilância com câmeras se multiplicam em frente a prédios residenciais de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas ainda sem regras claras para instalação e operação desse tipo de tecnologia. Apesar da promessa de aumentar a segurança em torno dos condomínios, especialistas afirmam que os equipamentos reforçam uma falsa sensação de proteção. Não existem estudos ou levantamentos que comprovem sua eficácia no combate à criminalidade. "Não há uma padronização técnica", ressalta Thallita Lima, coordenadora do projeto O Panóptico, que monitora o uso de tecnologias de vigilância no Brasil. Ela também aponta para a falta de uma reflexão sobre os impactos do uso do espaço urbano, "já que há totens bem na calçada". 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça A expansão desse tipo de tecnologia acontece em um momento em que a população se sente cada vez mais insegura. A violência é a principal preocupação para 28% dos brasileiros, segundo pesquisa da Quaest encomendada pela Genial Investimentos no mês passado. O g1 procurou as prefeituras de São Paulo e do Rio para entender se há regras para a instalação de totens de vigilância. As duas confirmaram que não existe regulamentação específica sobre o tema. O g1 também questionou o que é permitido instalar nas calçadas. Em São Paulo, a administração municipal afirma que adota a chamada "faixa de serviço", que determina calçadas com, no mínimo, 70 cm de largura para a instalação de "árvores, rampas de acesso para pessoas com deficiência, postes de iluminação, sinalização de trânsito, bancos, floreiras, telefones, caixas de correio e lixeiras" (veja aqui). A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano do Rio tem um documento que define a "faixa de serviço" como sendo de, no mínimo, 1 metro para árvores e até 60 centímetros para postes de iluminação pública (veja aqui). Torres privadas de vigilância não são mencionadas por ambas. Em agosto de 2025, a prefeitura do Rio determinou que uma das empresas, a Gabriel, realocasse suas mais de 400 câmeras instaladas em áreas públicas, por já existir um sistema municipal de vigilância e ser necessária autorização para uso desses espaços. ➡️ Em São Paulo e no Rio, o que vale hoje para torres de vigilância é... São Paulo: a instalação em terrenos privados é permitida em locais específicos sem necessidade de comunicar a prefeitura (veja detalhes abaixo). Rio de Janeiro: a escolha dos locais de instalação fica a critério das próprias empresas, sem orientação da prefeitura. Para que as câmeras são usadas Totem de câmera de segurança em São Paulo. Divulgação/Gabriel Essas torres coloridas, com LEDs fortes e câmeras voltadas para calçadas e carros, são oferecidas por empresas como CoSecurity (do Grupo Haganá), Gabriel e White Segurança, que concentram a oferta do serviço nas principais cidades do país. A ideia é monitorar o movimento no entorno dos prédios. Os moradores geralmente têm acesso às imagens por aplicativo — em uma das empresas, o histórico fica disponível por até 14 dias. Em alguns totens, há ainda um botão de pânico que permite acionar a central da empresa, responsável por chamar a polícia ou o Corpo de Bombeiros em situação de risco. Em São Paulo, o diferencial, segundo as empresas, é que as câmeras estão integradas a programas públicos, como o Smart Sampa (da prefeitura) e o Muralha Paulista (do governo estadual). Esses sistemas ajudam a identificar rostos de procurados e placas de veículos roubados. Condomínios e empresas podem, sem custo adicional, aderir voluntariamente aos programas e conectar suas câmeras às centrais de monitoramento, que contam com agentes policiais acompanhando as imagens em tempo real. O Smart Sampa reúne 40 mil câmeras integradas — ao menos 20 mil delas pertencentes a totens de condomínios e empresas parceiras — distribuídas por todas as regiões da cidade, segundo a prefeitura. A CoSecurity afirma ser hoje a maior participante privada do programa, com cerca de 8 mil câmeras (25% da rede). Torre de vigilância da empresa CoSecurity Darlan Helder/g1 Essas câmeras não fazem reconhecimento facial e as imagens podem ser repassadas à polícia mediante solicitação formal. Segundo as empresas, os equipamentos reconhecem apenas placas de veículos, o que pode ajudar na localização de carros roubados. O custo do serviço varia conforme o número de totens contratados. Uma empresa cobra cerca de R$ 1,5 mil por unidade ao mês, enquanto outra afirma que o valor mensal fica entre R$ 389 e R$ 749, dependendo do modelo e dos recursos oferecidos, como botão de pânico. Apesar das promessas de eficiência, há casos de frustração. Recentemente, o Profissão Repórter mostrou que, em um condomínio de São Paulo, moradores passaram a usar vasos de planta para tentar evitar roubos de celular de quem ficava na portaria, já que as torres deixaram de ser eficientes (veja no vídeo abaixo). Moradores de prédio em SP se frustram com totens de câmera e recorrem a vasos de planta para evitar assalto Em outras cidades, têm se multiplicado totens instalados por governos estaduais e prefeituras em espaços públicos, equipados com câmeras e botão de pânico para acionar a polícia em caso de emergência. Esse tipo de equipamento já foi adotado em Curitiba, Manaus, Belém e Recife, explica Pablo Nunes, coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que acompanha o tema de perto. Totens instalados na calçada Totens de câmera de vigilância em prédios de São Paulo Reprodução/Google Maps O g1 analisou a instalação das torres em São Paulo. Muitas estão fixadas em calçadas, na jardinagem dos condomínios (áreas internas e externas) ou ao lado do portão de acesso dos prédios. A prefeitura de São Paulo explica que, em áreas particulares, não é necessário pedir autorização para instalar os totens. Como exemplo, citou recuos de prédios (distância entre a edificação e os limites de frente, laterais e de fundo do lote), muros ou portões. Em espaços públicos, como calçadas e praças, é preciso obter aprovação da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (CPPU). "É importante destacar que a CPPU analisa esses casos do ponto de vista do impacto da inserção desses elementos na paisagem urbana", disse em nota. No Rio de Janeiro, a prefeitura afirmou que não há "legislação específica" para os totens de vigilância. Em nota, adiantou que "com o aumento de instalação destes equipamentos, determinou que os proprietários retirem as câmeras que obstruem o espaço público até 31 de dezembro". Totem de vigilância na calçada, em São Paulo. Darlan Helder/g1 Na Zona Leste de São Paulo, o g1 flagrou dois totens da empresa Defender instalados em calçadas no bairro da Mooca (veja na imagem acima). Perto dali, no Belém, foi identificado outro equipamento em via pública, desta vez da MasterCam Segurança (veja na imagem abaixo). O g1 questionou as duas companhias sobre a autorização da prefeitura para as instalações, mas não obteve resposta. Totem de vigilância da empresa MasterCam Segurança na região do Belém, na Zona Leste de São Paulo. Darlan Helder/g1 Um totem da Gabriel também foi visto em via pública na região do Brooklin, em São Paulo (veja na imagem abaixo). A empresa negou que há torres irregulares na capital paulista, apenas no Rio, e que está readequando essas instalações, "um processo que deve ser concluído até o fim do ano e envolve 400 equipamentos, o equivalente a 6% dos clientes". A Gabriel não informou onde ficam os totens irregulares. Após novo questionamento sobre a torre no Brooklin, a companhia disse que "atua sempre em conformidade com as diretrizes municipais e em diálogo com as autoridades locais, garantindo que todas as instalações estejam devidamente autorizadas e adequadas aos parâmetros urbanos". Totem de câmera de vigilância da Gabriel instalado na região do Brooklin, na Zona Sul de São Paulo Darlan Helder/g1 A CoSecurity afirmou que instala os equipamentos sempre dentro dos limites privados do cliente, nunca em calçadas. "Toda infraestrutura é posicionada exclusivamente dentro da área privada do cliente, como recuos". A White Segurança não retornou ao contato do g1 para esclarecer sua atuação. A Prefeitura de São Paulo solicitou ao g1 os endereços e imagens dos totens instalados em calçadas para "apuração", mas não deu retorno sobre esses casos até a última atualização desta reportagem. Eficácia é questionada Pesquisadores de segurança pública que acompanham o tema questionam a eficácia desses totens de vigilância. "Hoje, no Brasil, não há regulação específica para câmeras desse tipo e nem daquelas que fazem reconhecimento de rostos", afirma Pablo Nunes, coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). "Também não há qualquer regra sobre o que é feito com esses dados depois", completa. Pablo lembra ainda que a segurança privada não oferece uma solução precisa, e ainda pode gerar novos problemas. "Um efeito comum é o deslocamento de manchas criminais para áreas vizinhas sem o mesmo nível de vigilância", diz. O pesquisador também destaca que, quando um totem é instalado na calçada, ele não registra apenas os moradores entrando ou saindo do condomínio. "A partir desse ponto, já não se trata mais de controle de acesso. É uma ampliação do modo de vigilância", avalia. As duas principais empresas, por outro lado, destacam que têm ajudado a solucionar crimes nas cidades onde atuam desde o início de suas operações. A Gabriel, que começou a operar em 2019, afirma ter contribuído para a recuperação de mais de 100 veículos e para o indiciamento de 566 suspeitos. Já a CoSecurity diz que sua tecnologia ajudou na captura de 2 mil foragidos e na prisão em flagrante de 3.245 pessoas desde que passou a integrar o Smart Sampa, em São Paulo. Rua na região do Brooklin com torre de vigilância. Darlan Helder/g1 Para Thallita Lima, do projeto O Panóptico, há riscos adicionais ligados à privacidade e à segurança dos dados. Em caso de vazamento, criminosos podem ter acesso à rotina de uma pessoa específica, além de fotos dos rostos de várias outras, que podem ser usadas em fraudes. "É preciso um protocolo de segurança muito robusto", alerta. Ela acrescenta que as imagens captadas muitas vezes circulam informalmente, como fotos de pessoas consideradas suspeitas que são compartilhadas em grupos de WhatsApp. "Esse tipo de ação pode gerar problemas sérios, porque estamos falando do risco de se fazer justiça com as próprias mãos por meio da tecnologia", explica. Procurada pelo g1 para comentar esse tipo de monitoramento, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) afirmou que o tema é prioridade e está na agenda de discussões para o biênio 2025-2026, com ênfase nas questões envolvendo biometria facial. Reconhecimento facial: veja dilemas na implantação da tecnologia em condomínios Criminosos podem usar suas fotos nas redes para aplicar golpes financeiros? Implante cerebral é usado para controlar assistente virtual Alexa

FONTE: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2025/10/11/torres-com-cameras-se-espalham-por-cidades-monitoram-pessoas-sem-regras-claras-e-preocupam-especialistas.ghtml


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