'Tropa dos Gorillas': grupo de centenas de corredores vestidos de preto toma as ruas do Recife e vira 'movimento' de inclusão no esporte
11/10/2025
(Foto: Reprodução) 'Tropa dos Gorillas': grupo de corredores toma as ruas do Recife
Um gorila pode atingir a velocidade de 40 quilômetros por hora. Mas, no Recife, o gorila não corre sozinho, ele arrasta uma multidão. Com um "pace" coletivo, que reúne centenas de pessoas vestidas de preto num percurso de cinco quilômetros da Zona Oeste ao Centro da cidade, a "Tropa dos Gorillas" é um movimento de rua criado com uma proposta inclusiva de incentivo à prática esportiva (veja vídeo acima).
Idealizador da "Tropa", o criador de conteúdo Luiz Gustavo da Silva Tavares teve a ideia de formar um grupo de corrida com alguns amigos. Conhecido entre eles como "gorila", apelido que acabou batizando o movimento, o influenciador conta que tudo começou de forma despretensiosa. Só bastou um convite nas redes sociais para a tropa crescer.
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"A gente iniciou esse movimento comigo e meus amigos se reunindo para fazer uma corrida normal. Então, a gente manteve isso e, na segunda vez, eu decidi convidar meus seguidores. (...) A gente fez o convite em um domingo para sair do Compaz Miguel Arraes [na Madalena, bairro da Zona Oeste do Recife], onde a gente se concentra, até o Recife Antigo, o Marco Zero. (...) A gente reuniu os seguidores e nesse dia bateu 35 pessoas", contou Luiz.
O número, antes pequeno, aumentou. Agora, são mais de 200 pessoas que se encontram com Gustavo para correr na rua toda semana, nas noites de quarta-feira. A concentração começa às 19h, com aquecimento às 19h30. Só depois disso tem a corrida.
"Já faz mais de um ano que a gente tem esse movimento, só que, agora, a gente está fazendo ele toda quarta. Antes era só duas vezes no mês, que era mais um encontro entre mim e os meus seguidores. Mas a ideia sempre foi alavancar o nosso movimento para ser o que a gente é hoje. Então, já faz uns seis meses que o projeto anda assim", explicou.
É impossível não perceber o crescimento da tropa, que viralizou em vídeos publicados no Instagram. Segundo Gustavo, a iniciativa, que tem uma proposta de promover inclusão no esporte, também enfrenta julgamentos e preconceitos.
"A gente já teve muito julgamento, principalmente nesses dias, agora que a gente começou a evoluir. Então, a gente teve bastante julgamento da galera dizendo que era tudo torcida organizada, etc. Só que daí, depois de um tempo, a gente está conseguindo mostrar nosso movimento e o objetivo. E a galera está começando a entender aqui em Recife qual é o objetivo", contou.
Uma das preocupações em torno do grupo diz respeito à segurança no trânsito, já que os corredores ocupam grande parte das pistas usadas pelos carros.
Procurada pela TV Globo, a prefeitura do Recife disse que acertou uma troca de horário com a organização do grupo e informou que a corrida vai começar sempre às 20h30, quando o trânsito é mais tranquilo e facilita a mobilidade dos participantes.
Além disso, de acordo com a gestão municipal, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) vai acompanhar e ajudar nos bloqueios e desvios do trânsito enquanto o Compaz vai servir como base de apoio para os corredores sempre que o grupo solicitar.
Luiz Gustavo conduz uma multidão pelas ruas do Recife com a Tropa dos Gorillas
Arte/g1
Vestidos de preto
O percurso da Tropa dos Gorillas é pensado no dia de cada corrida. Como Gustavo e os amigos, que ajudam na organização e fazem a corrida acontecer semanalmente, conhecem diferentes rotas a partir do Compaz, o trajeto é "puxado" pelas ruas da cidade, passando por diferentes bairros.
"A gente é daqui da comunidade mesmo, da Madalena. Então a gente sabe várias rotas daqui. A gente planeja e define no dia, mas a gente só avisa a galera que vai correr no dia mesmo. Mas sempre são 5 km de percurso", explicou.
Também há uma padronização de cores a pedido de Gustavo. Uma forma de organizar a corrida para que o fluxo aconteça da melhor forma para todos.
"Isso foi um padrão que a gente criou, de todo mundo ir de camisa preta, que já é a nossa marca do gorila. Então, mantém um padrão de camisa preta. A gente começou a fazer agora camisas padronizadas para ficar todo mundo mais organizado. (...) Esses quatro, seis meses, cresceu bastante, então a gente já fez outro modelo de camisa para fazer o lançamento", contou.
Organizadores da Tropa dos Gorillas usam branco para facilitar o acompanhamento do trajeto.
Reprodução/WhatsApp
Quem faz parte da tropa
Entre os corredores dessa tropa, está Victor Hugo Menezes de Melo. Participante desde o início do grupo, ele também leva a filha Isadora Natália, de 10 anos.
"No começo, eram umas dez ou doze pessoas, no máximo. Aí foi juntando, o pessoal gostando, aparecendo mais gente. (...) E se tornou a tropa. Boa, com pessoas diversas, tem idoso, tem criança, tem mulher, tem homem", contou.
Uma tropa diversa é o motivo que fazem outro atleta, Vitor Gabriel, continuar participando da Tropa dos Gorillas. Segundo ele, a corrida o ajudou a se tratar de uma depressão.
"Na Tropa, conheci algumas pessoas que me motivaram mais a vir. Conheci algumas pessoas com quase a mesma história que eu. Gostei do movimento que unia todo mundo, não tinha essa de classe social, cor, raça, sexualidade, gênero, era aberto para todos e eu amo algo que é inclusão social", disse.
O corredor, que tem apenas um pulmão por causa de uma pneumonia que contraiu logo após o nascimento, conta que sempre teve dificuldade com os esportes. Hoje ele não só participa como ajuda a organizar as corridas.
"No começo, eu nem fui até o final do percurso, eu voltei da metade para casa, fiquei cansado. Graças à tropa, procurei uma ajuda para melhorar na corrida e hoje em dia estou bem melhor. Fiquei muito feliz com esse convite porque foi um negócio que me ajudou muito e agora eu posso ajudar outras pessoas, dá até vontade de chorar. Não tenho palavras para descrever o que eu sinto pela tropa", contou.
Paula Letícia Fernandes de Lima se juntou à "Tropa dos Gorillas" há pouco tempo. De acordo com ela, os impactos na sua saúde e autoestima foram imediatos.
"Faz pouco tempo, mas esse pouco tempo foi o suficiente para melhorar 100% minha saúde mental. Melhorou bastante minha ansiedade e até mesmo depressão. (...) Quando me mudei para o meu novo endereço, fiquei parada sem fazer nenhum exercício físico e até mesmo correr. Foi aí que vi o movimento da tropa dos gorilas e decidi também participar desse evento top", disse Vitor.
Prima de Gustavo, a nova atleta soube do movimento pelas redes sociais e pediu ao irmão, um dos organizadores, para participar também. Hoje, só agradece pela oportunidade.
"Logo quando eu vi a movimentação, eu disse a meu irmão que queria participar, pois isso iria fazer bem para mim. Esse projeto é incrível, está incentivando várias pessoas. (...) Ele vai muito além", afirmou.
Victor Hugo Menezes e a filha, Isadora, na 'Tropa dos Gorillas'.
Reprodução/WhatsApp
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