'Vovó viajante': aos 67 anos, paranaense dirige sozinha pelo litoral brasileiro e por países da América Latina
11/10/2025
(Foto: Reprodução) 'Vovó viajante' conheceu o litoral brasileiro e países da América Latina em três anos
Enquanto muita gente sonha em se aposentar e descansar, Roseli Aparecida Jardim resolveu fazer o contrário: quanto tinha 64 anos, colocou o pé na estrada sozinha e partiu de carro para lugares que sempre sonhou conhecer. Em três anos de viagem, a "vovó viajante", como ficou conhecida, esteve em várias praias do litoral brasileiro e conheceu países da América Latina, como Uruguai, Argentina e Chile.
Hoje com 67 anos, ela retornou a Maringá, no norte do Paraná, cidade em que sempre morou e onde os filhos estão. Contudo, a volta é temporária, pois novas viagens já estão sendo planejadas por Roseli. A vontade dela é seguir viajando até os 85 anos.
"Eu sempre tive vontade de viajar e nunca achei que a gente deveria morar numa casa fixa. Desde criança achei que a casa devia ter rodinha para a gente mudar ela de lugar de vez em quando. Eu cresci com isso, mas casei, tive os filhos e nunca consegui realizar essa essa minha vontade. Aí, depois que eles casaram e meus netos cresceram, eu falei: 'Agora é hora'. Eu sempre esperei uma Kombi ou um motorhome, mas o dinheiro nunca deu. E eu tinha o carro e comecei a sair com ele", contou Roseli, que diz já ter rodado mais de 3 mil quilômetros.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Maringá no WhatsApp
A primeira viagem começou em 2022. Ela saiu de Maringá, acompanhada da cachorrinha Fada e do galo de estimação Zico, em direção a Porto Seguro, na Bahia. Esse foi o destino informado aos filhos, mas Roseli acabou indo além e passou oito meses visitando o litoral nordestino.
A viagem foi lenta, justamente porque o objetivo era conhecer com calma todos os lugares que um dia só tinha visto por vídeos. "Não é chegar no lugar só dar uma olhadinha e ir embora. É olhar, sentir o lugar, sentir o cheiro, sentir a temperatura da água, sentir o vento, a areia batendo, sabe? É isso que eu queria", contou Roseli.
Depois que o passeio pelo litoral acabou, ela sentiu que ainda deveria continuar. Por isso, depois que retornou a Maringá, em fevereiro de 2024, Roseli partiu rumo ao sul do Brasil, com a intenção de estender a viagem para o Uruguai, Argentina e Chile.
Roseli conheceu diversos países da América do Sul.
Cedida
LEIA TAMBÉM
Desaparecida: Criança de 2 anos some de dentro de casa, e mamadeira dela é encontrada em rio
Coincidência: Paranaense descobre que passou 20 anos com o mesmo número de CPF que outro homem, que tem o mesmo nome e data de nascimento
Polícia: Cão farejador encontra drogas escondidas em lanchonete enquanto PM comprava lanche
Viagens sem roteiros
Nesse período, ela conta que, devido às enchentes registradas no Rio Grande do Sul, teve que ficar um tempo parada em Santa Catarina. Depois foram cerca de três meses em um camping em Gramado.
Roseli não se abalou com o atraso, porque o objetivo nunca foi seguir um roteiro. A vontade dela era apenas conseguir conhecer os lugares com os quais havia sonhado, como a Patagônia, a estrada Carretera Austral, a cidade de Ushuaia, o deserto do Atacama e a Praia de Las Conchitas.
"Eu pensava: 'tô com 67 anos, talvez eu não vou ter mais uma oportunidade de voltar aqui, então quero conhecer todos esses lugares numa viagem só, nem que ela demore um ano'. O que mais marcou para mim foi chegar em Ushuaia. Quando cheguei naquele portal eu chorei. Eu fui lá, abracei o portal e não queria soltar. Eu achava meio impossível chegar sozinha, sabe? Achei que eu eu não ia vencer esses medos", contou Roseli.
Cachorrinha Fada foi até Ushuaia com a tutora Roseli.
Cedida/Roseli Aparecida Jardim
Companheiros de viagem
Roseli viajou para o litoral nordestino com a cachorrinha Fada e o galo Zico.
Cedida/Roseli Aparecida Jardim
Durante boa parte da viagem, Roseli não estava realmente sozinha. Na passagem pelo litoral nordestino, ela teve a companhia da cachorrinha Fada e do galo Zico. Quando ainda morava em Maringá, os dois eram companheiros dela no dia a dia. Por isso, ela decidiu que não podia deixá-los para trás quando encarasse a estrada.
"O Zico foi até o Maranhão comigo e voltou. Ele e a cachorrinha fizeram mais sucesso que eu nessa viagem. Eu entrava na água, ele e a fada entravam atrás e saiam nadando. Os dois adoravam o mar e socializavam muito bem com todos", relembrou.
Quando retornou a Maringá, Roseli teve que deixar Zico com um dos filhos para poder seguir viagem ao sul do país. Dessa vez ela levou somente a cachorrinha Fada.
Como já tinha 12 anos, a cachorrinha apresentou alguns problemas de saúde durante a viagem. Para passear, Fada era levada somente em um carrinho. Roseli chegou a levá-la a um veterinário na Argentina, e depois continuou a viagem, mas a cachorrinha só conseguiu acompanhá-la até Ushuaia, morrendo pouco tempo depois.
"Quando eu saí de Ushuaia, ela teve uma crise e eu não consegui um veterinário perto. Ela faleceu ali e um pedaço meu ficou com ela. A gente nunca tinha se separado. Acho que ela ouviu tanto eu falar que eu queria chegar em Ushuaia e a gente foi e tirou muitas fotos. Aí, quando eu saí de lá, ela morreu. Acho que ela pensou que tinha cumprido o compromisso comigo e agora eu teria que seguir sozinha", contou.
Cachorrinha Fada acompanhou a tutora Roseli durante as viagens.
cedida/Roseli Aparecida Jardim
Alimentação, hospedagens e dificuldades
Para sobreviver durante as viagens, Roseli precisou de pouca coisa. Com um fogareiro e um botijão de gás pequeno, ela fazia pequenas porções de comida para consumir na mesma hora, ou comprava refeições em alguma loja de conveniências.
Ela conta que muitas peças de roupas e sapatos que levou nem foram usadas. As linhas para fazer crochê também foram levadas. Muitas peças foram produzidas durante a viagem e vendidas a cada cidade por onde passava.
Para dormir, ela retirou o banco traseiro do carro e transformou o espaço em uma cama. Ao lado, uma pequena estante também foi improvisada.
Roseli improvisou uma cama dentro do carro para dormir durante as viagens.
Cedida/Roseli Aparecida Jardim
"Tem muita coisa no meu carro, passeando comigo, que a gente acha que vai usar e não precisa. A gente precisa de muito pouco para viajar. [...] Quando eu entrei na Argentina, me bateu um medo, um desespero pensando se meu dinheiro ia dar, e se eu ia conseguir lidar com uma moeda estranha. Medo de acontecer alguma coisa com o carro, o medo de não encontrar ninguém", lembrou.
Apesar do medo, Roseli fez muitas amizades pelo caminho. Com algumas, ela troca mensagens até hoje. Além dos brasileiros, com ajuda de aplicativos de tradução, ela conseguiu se comunicar e conhecer americanos, poloneses e alemães.
Viajando sozinha e de carro, Roseli já conheceu Uruguai, Chile e Argentina.
Cedida
Roseli não quer parar de viajar e conta que seu objetivo agora é conhecer os estados do norte do Brasil. Para mulheres que, assim como ela, guardam um sonho e são impedidas pelo medo, Roseli deixa um recado:
"Eu cheguei em um momento da minha vida que eu pensei: ou eu saio agora, ou eu fico em casa chorando e reclamando, esperando a morte chegar ou uma depressão. Então, eu falo para as mulheres: criem mais coragem de sair, não fiquem dentro de casa, pois o tempo não volta e a gente tem que fazer aquilo que tem vontade, mesmo com medo".
Moradora de Maringá deixou o medo de lado e há quatro anos viaja sozinha dentro de um carro conhecendo países
Cedida
VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná
Leia mais notícias da região em g1 Norte e Noroeste.